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Análise Católica do Auto da Compadecida

Por Nicolas Casagrande, Membro do Núcleo Paulista da Ação Orleanista



Parte I: A Obra


Baseado no livro de Ariano Suassuna, o Auto da Compadecida, retrata de forma satírica e humorística, as aventuras de dois personagens, João Grilo e Chicó no Sertão Nordestino, ambos muito pobres, precisam enganar para escapar da fome e da miséria. Fortemente inspirado nos "Autos" medievais, como o Auto da Barca do Inferno, certamente o Auto da Compadecida revolucionou o cinema nacional, mas principalmente, há uma mensagem sobre a Divina Providência e a Misericórdia no filme.

No enredo geral, como qualquer Auto, existe uma crítica social e moral, acerca do contexto inserido. Critica de forma satírica, por exemplo, o Coronelismo, dada uma constante subserviência ao Major de Moraes. Existe a presença também do Cangacismo, com uma clara referência a Lampião, incorporada em Severino.

Também, existe uma constante crítica moral, a prática e costumes. Satiriza a corrupção do Clero, incorporada no Padre João e no Bispo, apegados de maneira excessiva e a riqueza. Satiriza a Luxúria e a traição, incorporado em Dorinha e Chicó. Satiriza a austuciosidade, incorporada em João Grilo.


Em outras coisas, a obra é recheada com um bom humor, e repleto de críticas morais e sociais.


Parte II: A Providência e a Misericórdia Divina


A obra dividindo-se em quatro partes, sendo na última "O Julgamento", a invasão cangaceira organizada pelo bando de Severino, resulta na morte de ambos os clérigos, Dora e Eurico, e também João Grilo e o próprio Severino. Ao serem assassinados, todos os personagens, juntamente com outras almas, aos quais caminham numa direção, rezando e carregando cruzes e outros aparatos, dentro da Capela da cidade, que representa certamente o Limbo, as almas que seram encaminhadas para seu julgamento, se deparam com uma figura com um par de chifres, vestes brancas, e uma postura "acolhedora e educada", sendo esse o claro primeiro ensinamento, o diabo apresentasse como educado, acolhedor e bom, como o pecado se apresenta a cada cristão, tentador. Mas ao virar as caras, mostra indiscutivelmente a sua face: uma criatura diabólica, nojenta, livre de qualquer resquício de bondade, que pensa apenas em nossa condenação aos Infernos.


Numa cena cômica, finalmente, os condenados são colocados diante de seu julgamento. Nosso Senhor Jesus Cristo, então, o Juiz Justo e Bom, aparece na figura de um homem negro, sentado num trono, cercado de anjos.


Muitos podem acreditar, que o fato de Cristo aparecer como negro, é uma "militância esquerdista", mas, a época em que o filme fora feito, ainda este debate não havia, e a própria figura é comentada no filme. Cristo apareceu daquela maneira, pois despertaria o preconceito de cor nos condenados, denunciando mais um de seus pecados ante o Juiz Altíssimo. Começado o julgamento, o Diabo, acusa de maneira violenta, e escreve com seu próprio sangue num caderno, os crimes dos condenados, um por um. Cristo então, ouve seus pecados, e portanto, os próprios pecadores os reconhecem suas faltas, vide as palavras de Padre João: "a situação está difícil."


Por de repente, sobre a invocação de Nossa Senhora, num versinho bonito e engraçado, a Imaculada, a Advogada dos Homens, aparece diante deles, para a sua defesa.


Parte III: A Advogada dos Homens e a Triunfadora contra os Demônios


Rapidamente, com o desenrolar do julgamento, A Virgem Maria apresenta-lhes um novo fato dos condenados, o arrepedimento de cada um deles.

Dora e Eurico, representavam ambos os dois, a Luxúria e um casamento instável. Na hora de sua morte, ambos rezaram a mais famosa oração mariana, a Ave Maria, e a própria Virgem lhes da ênfase numa parte: "os homens pedem para que eu rogue por eles na hora da morte".


E sabemos o que diz a oração:


Ave Maria, cheia de graça,

o Senhor é convosco,

bendita sois vós entre as mulheres

e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.

Santa Maria, Mãe de Deus,

rogai por nós pecadores,

agora e na hora da nossa morte. Amem.


Vide a isso, a Virgem assiste os condenados na hora de sua morte. Dora se desculpa diante de Eurico, e conta-lhe que nas loucuras de paixão, preocupava-se na hora da morte de Eurico, portanto, buscava nos outros o amor que não lhe era favorecido pelo marido. Já o marido, perdoa a esposa por todas as traições, e eles decidem, num último ato de amor, "unidos até que a morte os separasse", morrer juntos, num único disparo do cangaceiro.


Já o Padre João e o Bispo, ambos corruptos, arrogantes, e juraram por vezes o Direito Canônico em falso, para ganhar vantagens financeiras, diante de seu assassino, que buscava a confissão, que certamente foi negada pelo Bispo. Já o Padre João lhe repreende, e diz uma das frases mais emblemáticas para a fé: "Eminência, somos sacerdotes, nossa missão é salvar as almas, mesmo que não consigamos salvar as nossas próprias". Portanto, num ato de caridade, Padre João e o Bispo, perdoam seus assassinos, na seguinte frase: "lembre-se, seu Bispo, a oração que Jesus Cristo fez pelos seus carrascos."


"Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!

Meu Deus, Meu Deus, por que nos abandonastes?"

Jesus Cristo, o Nazareno, o Rei do Universo, São Lucas 23.34.


Chegando ao fim, sobre Severino, o cangaceiro, o próprio Cristo decide em favor dele. Severino, teve seus pais brutalmente assassinados na infância, perdendo assim suas faculdades mentais, não tendo controle sobre seus atos e suas ações, sendo instrumento da Providência Divina, sendo salvo e levado ao Céu. Já os quatro condenados, os sacerdotes e o casal, são levados ao purgatório.


Mas, e João Grilo? Como o próprio afirma, "sua morte não foi gloriosa como de seus companheiros, ele não se arrependeu no último segundo de suas vidas."


A Virgem, portanto, por uma última vez, protesta em favor de João Grilo. Os homens, nascem com medo, de muitas coisas, mas apesar de tudo, da morte. E sim, apesar de tudo, o medo da morte não lhes redime os pecados, mas muito dos homens, levam a pecar diante deles, e João Grilo, foi um destes. Nasceu pobre, e foi desde muito cedo, maltratado, castigado, xingado. Nunca abandonou sua fé, e sempre manteu um sorriso, mas apesar de tudo, como qualquer humano, buscava um interesse, ficar vivo. E para ficar vivo, muitas vezes teve de enganar e mentir, este foi o único jeito por várias vezes de sobreviver.


A Virgem Maria portanto, faz um pedido a seu filho, ressuscitar João, e fazer ele voltar a viver, para que portanto, viva um pouco mais a sua vida, e possa endireitá-la. E então, mas uma mensagem de fé: Cristo, prefere ultrapassar os princípios da Lei Natural, para salvar mais uma alma, e livrá-la do fogo infernal.


Certamente, não podemos levar a sério grande parte da obra, pois é rebuscada de muito humor, mas há mensagens de fé triviais na história.


Roguemos, então, a Virgem Maria, que nos sejais advogada, e nos proteja contra os demônios e o fogo infernal. Para que abandonemos o pecado, e que possamos ter o privilégio de ser assistidos por Ela, na hora de nossa morte.

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